Na Corticeira Amorim Amorim as encomendas do exterior mantiveram-se e por isso a produção nunca parou. Mas a empresa teve que gerir a realidade de ter várias dezenas de colaboradores impedidos de ir trabalhar, por estarem no cerco sanitário de Ovar. A directora de Recursos Humanos Alexandra Godinho partilha como deram resposta ao desfaio, numa conversa com Celso Santos, associate director | Professionals, da Randstad Portugal, em mais uma re(talk). O tema: “À prova de vírus: como garantir a continuidade do seu negócio”.
Assegurar a continuidade do negócio passa por ter um planos de pessoas, pessoas críticas. E se estas podem adoecer. Como se prepara a empresa e como se substitui, sem contratar? Esse plano já existia? E agora, foi reajustado? Alexandra Godinho e Celso Santos, partilharam as suas experiências, numa conversa moderada por Ana Leonor Martins, directora de Redacção da Human Resources.
Desde o início da situação originada pela pandemia Covid-19 que a Corticeira Amorim esteve«muito atenta», uma vez que 96% do seu negócio é feito fora do nosso país, o que faz dela uma empresa de mercado internacional e de exportação. Ma a maior parte da industrialização é feita em Portugal. «Temos 18 localizações diferentes com unidades industriais onde trabalham cerca de três mil colaboradores», revela Alexandra Godinho, acrescentando eua a produção nunca parou. «O negócio da Corticeira Amorim teve sempre continuidade, em moldes diferentes, pois tivemos de nos readaptar, mas nunca parámos.»
Como tem muitos profissionais a exercer, sobretudo actividade comercial, no estrangeiro, cedo a empresa percebeu que o caso da pandemia podia atingir Portugal, como de facto veio a acontecer. «Desde o início de Março que começámos a tomar algumas medidas por iniciativa própria, como as quarentenas de colaboradores que regressavam de viagem e a posterior inibição de viajar.»
Dentro do Grupo Amorim, por norma, as práticas estão muito alinhadas e de imediato as diferentes áreas de Recursos Humanos e da medicina do trabalho começaram a interagir com vista a erguer um conjunto de medidas para garantir a segurança e a saúde das pessoas, sempre com a preocupação da continuidade do negócio em mente. Ao mesmo tempo, houve a preocupação de garantir que os colaboradores percebiam que a empresa era um local seguro, «e que estamos a ser desenvolvidos todos os esforços para que as condições de segurança fossem garantidas de forma efectiva».
Já no caso da Randstad, ainda que a actividade não tenha parado, foi bastante afectada pela pandemia. Portugal estava com taxas de desemprego em mínimos históricos, e com um mercado do recrutamento a passar por um bom momento. Com a obrigatoriedade de confinamento os processos pararam, ou quase. «Ninguém estava preparado para o que aconteceu, e foi difícil, exigindo uma verdadeira adaptação e transformação», admite Celso Santos, constatando que toda esta situação teve um impacto bastante negativo na confiança, quer dos candidatos quer dos próprios clientes. «Se, por um lado, tivemos clientes que continuaram com a sua actividade e, logo, os processos de recrutamento seguiram o seu rumo, tivemos outros que, de um dia para o outro, suspenderam tudo, sem qualquer previsão de quando possamos voltar a retomá-los.»
Para o associate director da Randstad, hoje o mais complicado é fazer previsões, e faz notar que o papel da empresa especialista em Recursos Humanos, nesta fase, passa por conseguir transmitir confiança aos candidatos, e, aos clientes, fornecer as ferramentas essenciais de que precisam nesta fase».
Quando os colaboradores ficam retidos no cerco sanitário
Se, para muitas empresas, os resultados do primeiro trimestre do ano ficaram bastante comprometidos com a pandemia, a Corticeira Amorim cresceu cerca de 7% relativamente ao periodo homólogo de 2019. Nas palavras de Alexandra Godinho, isto explica-se pelo facto de um dos sectores onde a empresa actua ser o das rolhas, «considerado um bem de primeira necessidade. A indústria das bebidas nunca parou, em nenhum país, nem mesmo em Itália, e por isso o volume de encomendas que já tínhamos manteve-se.»
Em Maio já se nota um abrandamento, mas durante os meses anteriores não. «Tivemos um elevado volume de trabalho, que levou inclusive a que tivéssemos que recorrer a trabalho extraordinário.» A directora de Recursos Humanos partilha ainda que, com alguns trabalhadores oriundos de Ovar que ficaram impedidos de ir trabalhar devido ao cerco sanitário, a empresa viu-se obrigada a recrutar para colmatar a sua ausência. E partilha que não tiveram dificuldade em encontrar as pessoas de que precisavam. Sublinha ainda ser «motivo de agradecimento e de frande orgulho, verificar que as equipas permaneceram nos seus postos de trabalho, ajudando a empresa a seguir em frente e a ter bons resultados».
Não obstante, outros processos de recrutamento em curso foram suspensos, «focando-se a atenção em posições que se verificaram ser fundamentais para a empresa continuar a trabalhar. Há uma grande expectativa para perceber o que vai acontecer no futuro», reconhece Alexandra Godinho. «Temos que “navegar à vista”, mas se conseguimos chegar aqui, também vamos ter sucesso no futuro.»
Dar continuidade ao negócio é importante mesmo em situações extremas como a que vivemos. Mas a necessidade de ter um plano que o assegure não se resume a situações se excepção. «É fundamental que todas as empresas tenham um plano de continuidade de negócio», afirma Celso Santos, garantido que isso fez a diferença na resposta da Randstad à pandemia. «E é um plano que coloca sempre as pessoas no centro da equação, pois desde sempre que o que nos define é a forte preocupação com o bem-estar e a protecção dos colaboradores.»
No que respeita a esta situação em concreto, o responsável defende a importância de, sempre que possível as empresas terem equipas em espelho, de modo a assegurar a continuidade do negócio na eventualidade de surgiram casos positivos de Covid-19. «É importante que isso aconteça, sendo este um trabalho dos Recursos Humanos em conjunto com as outras áreas de negócio. Só as empresas que tiverem este plano implementado é que vão estar bem preparadas para qualquer situação de emergência. É preciso identificar o talento, os profissionais que podem substituir outros, em situação de emergência», reitera.
Na Corticeira Amorim, o plano de continuidade do negócio teve que ter em atenção o facto de a empresa se ter visto na necessidade de recrutar colaboradores para posições críticas e essenciais à manutenção da actividade. Numa primeira fase, o plano de contingência estava muito focado na segurança e na saúde das pessoas, mas de imediato a empresa começou a «delinear cenários possíveis, tentando perceber quais os locais e estruturas criticas para o bom funcionamento da empresa, garantindo os meios para que nunca fiquem colocados em causa».
Tudo foi organizado de modo a garantir sempre os serviços mínimos para que a parte de operações continuassem a funcionar. «Saímos desta crise mais capazes, com um plano de continuidade de negócios mais forte para responder às necessidades da empresa», assegura Alexandra Godinho.
Regresso à “normalidade”
Com o início da segunda fase de desconfinamento, é esperado que o mercado comece a reagir. Mas, na opinião de Celso Santos, ainda é cedo para perceber qual vai ser o comportamento do mercado. «Vamos estando em contacto com os clientes e sentimos que começa a haver alguma retoma dos processos produtivos, as empresas estão a tentar regressar à actividade dentro das novas normas e garantindo toda a segurança das suas pessoas», mas teremos que esperar para ver a evolução.
«A retoma vai ser muito lenta», perspectiva, revelando que os processos de recrutamento que foram suspensos ainda não foram reactivados. Para Celso Santos, a velocidade com que a retoma vai acontecer depende muito da coragem das pessoas e das próprias empresas, «para aumentarem o grau de confiança dos colaboradores, de modo a que estas não tenham receio quando forem trabalhar».
Fonte: Revista Human Resources
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