A fatura da água é apenas mais uma a pesar na conta. No entanto, é possível fazer com que custe um bocado menos. Como? Foi isso que tentámos descobrir. Tem noção do seu consumo diário? Onde está a gastar mais água? E onde pode poupar?
Ao longo do mês, as faturas vão-se acumulando e a conta bancária vai baixando. Uma das que pesa sempre é a da água, que umas vezes dói mais e outras menos, já que o consumo não é estanque. Acha que todos os litros que gasta são justificáveis? Ou admite que, por vezes, acaba por desperdiçar?
Quando recebe a fatura limita-se a efetuar o pagamento ou perde (no caso, investe) algum tempo a analisá-la? Sabe no que está a despender mais água? Tem noção de como poderia atenuar os gastos não só deste bem, mas também monetários? Falámos com um ambientalista para descobrir.
Como é que a fatura atinge aquele valor? Quantos litros está a usar por mês? E, mais importante ainda, por dia, em média? Fomos procurar entender de que forma se deve interpretar este documento e entender quais as melhores estratégias para poupança de água.
“A média de um cidadão em Portugal são 187 litros diários. A ONU recomenda 110 para satisfazer as nossas necessidades básicas”
Para encontrar estas respostas, falámos com Tiago Matos, ambientalista de 27 anos que utiliza a sua conta de Instagram, desde maio de 2020, para promover a “literacia em relação à sustentabilidade”. Fá-lo, por exemplo, ao conceder “dicas para um estilo de vida mais consciente”. Além disto, Tiago Matos, que trabalha com estudos de impacto ambiental, explica de que forma é que “a luta climática está ligada aos direitos humanos”.
Tiago Matos, ou Tiago Green Tribe, estudou Engenharia do Ambiente. “Sempre quis seguir a área do ambiente, foi fácil decidir. Esteve sempre muito presente desde novo, sempre vi muitos documentários e programas relacionados com a sustentabilidade”, explicou-nos, quanto ao rumo que decidiu tomar para a sua vida.
Hoje, a título profissional, foca-se em parques eólicos, mas, nos tempos livres, dedica-se à consciencialização ambiental através das redes sociais. No início do ano, fez uma publicação acerca de como poupar na fatura da água, no seguimento de ter ficado em choque ao aperceber-se da quantidade diária que utilizava.
Ficou determinado em reduzir os gastos. Para tal, recorreu à fatura da água para entender qual o consumo mensal e, portanto, o diário. “É essencial olharem para a fatura e perceberem quando estão a gastar”, disse à MAGG. “As pessoas não têm noção do que gastam e do quão importante a água é para nós. Fala-se sempre da escassez de água noutros países. Acho que as pessoas têm a água em Portugal demasiado garantida”, crê.
“A média de um cidadão em Portugal são 187 litros diários. A ONU recomenda 110 para satisfazer as nossas necessidades básicas”, comparou, assegurando que cumprir este objetivo não compromete a qualidade de vida. “Estima-se que, em 2040, Portugal entre em escassez de água”, escreveu, na publicação.
Como descubro quanta água gasto diariamente?
Atente na última fatura da água que recebeu. Procure a parte que refere o “consumo faturado” e aponte o número mencionado (exemplo: nove metros cúbicos). Perceba qual o período de consumo em causa (exemplo: 31 dias). De seguida, divida os dois números.
Uma vez obtido o resultado, vai voltar a fazer uma divisão, mas, desta vez, pelo número de pessoas que vive na casa em questão (exemplo: três moradores). De acordo com estes números, o consumo diário é de 96,8 litros de água por dia por cada pessoa, portanto 290,4 toda a casa.
Ao realizar estas contas, vai conseguir ter uma maior perceção dos gastos diários. A partir daqui, pode traçar objetivos para reduzir este consumo. Não são necessárias mudanças drásticas no estilo de vida para fazer uma grande diferença em vários aspetos.
Existem ainda algumas taxas e impostos fixos, cujo valor varia de fatura para fatura, sendo proporcional ao consumo. Estão em causa valores referentes aos resíduos sólidos, que dizem respeito ao tratamento do lixo, e as águas residuais, ligadas ao saneamento.
Estão ainda explícitas na fatura da água duas tarifas ligadas ao Governo: a de recursos hídricos, destinada à administração da região hidrográfica que abrange a morada correspondente à fatura, e a de gestão de resíduos, que é aplicada pela Autoridade Nacional de Resíduos.
De que forma é possível poupar na água e, portanto, na fatura?
- “A maior parte da água que se gasta durante o dia em casa vem das descargas”, refere Tiago Matos. O valor “é muito variável”, sendo que pode ir dos três aos 15 litros. O ambientalista aconselha-o a colocar uma garrafa de água de plástico de 1,5 litros dentro do depósito do autoclismo. “Assim, vai poupar aquele volume por descarga. Se cada descarga for de 5 litros, passa a usar só 3,5 litros. Com quatro descargas diárias, poupa 6 litros por dia”, aponta.
- Costuma fazer a pré-lavagem da louça antes de a colocar na máquina, com o intuito de tirar a maior sujidade? De acordo com Tiago Matos, não deve fazê-lo. Isto não quer dizer que os resíduos vão para a máquina na mesma. Simplesmente basta retirá-los com o esfregão, sem recorrer a água. “Resulta numa poupança de cerca de 38 litros por refeição”, estima.
- É importante reaproveitar toda a água possível. “Se está a cozer legumes, pode aproveitar a água para fazer sopa. Se cozeu feijão, pode usar a água para cozer arroz”, exemplifica o ambientalista.
- “Em tempos de chuva, uma raridade em Portugal hoje em dia, pode aproveitar a água para regar plantas ou uma horta”, sugere o ambientalista. Assim, escusa de aumentar o consumo da fatura e consegue utilizar a natureza a seu favor.
- Outro grande gasto acontece a lavar a louça à mão. “Lavar de forma manual gasta muito mais do que colocá-la na máquina”, assegura Tiago Matos. “Sobretudo se estivermos a considerar 10 litros por minuto e sempre com a torneira aberta”, reforça. Assim, deve evitar lavar a loiua à mão e, em vez disso, colocá-la na máquina.
- Porém, quando a coloca na máquina, importa utilizar o modo ecológico. Ainda que demore mais tempo a lavar, vai poupar não só na água, mas também na carteira. “Num modo eco, uma máquina de lavar pode gastar entre 7,5 a 12 litros por lavagem. A lavar manualmente podemos chegar a0s 100”, garante.
- É importante, durante o banho, aproveitar a água fria que corre enquanto espera pela quente. “Pode colocar um jarro que esteja limpo e essa água é potável”, avisa. Se preferir não a consumir, pode optar pelo balde da esfregona e usá-la para lavar o chão, por exemplo.
- Ainda sobre os banhos, os residentes da casa podem tomá-los de forma seguida. Desta forma, “a água continua quente e não têm de esperar”. “A média do caudal de água em Portugal é cerca de dez litros por minuto. Três banhos diário em casa seriam 30 litros por dia. No final do mês, são cerca de 900 litros que não foram usados. É um grande impacto”, argumenta.
- Não é também aconselhável tomar banho todos os dias, tal como afirma o ambientalista, que destaca que muito do consumo de água está na casa de banho. Portanto, reduzir os duches ao máximo.
- Fechar as torneiras sempre que possível: enquanto coloca champô, amaciador ou gel de duche, por exemplo, enquanto passa o sabonete nas mãos ou até enquanto lava os dentes.
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Texto originalmente publicado em www.magg.sapo.pt
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