Com a chegada do inverno, além das gripes, constipações e cobertores, é tempo também do eritema pérnio ou perniose, ou mesmo frieiras, como é mais comummente conhecido.
As frieiras consistem numa doença inflamatória resultante da exposição ao frio e humidade, que atingem principalmente as áreas mais expostas do corpo (mãos, pés, nariz e orelhas), embora, e ainda que de forma menos frequente, se possam também encontrar nos joelhos, cotovelos e pernas. São muito comuns na população, embora haja grupos com maior suscetibilidade de padecê-las do que outros; tais como as crianças, praticantes de atividades ao ar livre, mulheres jovens (devido a alterações hormonais) e idosos, quando existe insuficiente circulação nas extremidades, ou mesmo história familiar.
Mas, afinal, o que é o eritema pérnio?
Trata-se, sobretudo, de uma reação desadequada a variações de temperatura. O frio que atinge as zonas mais expostas do corpo faz com que os vasos sanguíneos se contraiam, dificultando assim a chegada de sangue a essas mesmas áreas. A exposição rápida a uma fonte de calor vai fazer com que ocorra uma posterior vasodilatação, aumentando bruscamente a concentração de sangue circulante. Dado que esta dilatação dos vasos sanguíneos não é suficientemente rápida para receber a totalidade do sangue, uma parte deste acaba por extravasar para a pele, resultando assim na reação inflamatória que se conhece como frieira.
Portanto, face a um quadro cutâneo doloroso em que a pele apresenta lesões de coloração variável entre o branco, vermelho ou mesmo azul-escuro, se encontra inchada, com comichão ou sensação de queimadura e insensível ao tato, podemos assumir estar perante eritema pérnio.
Nos casos mais graves, podemos inclusivamente ter feridas ou formação de bolhas.
O primeiro passo é tranquilizar-se, já que, tratada de forma atempada, não é uma doença grave, ainda que possa ser bastante incomodativa.
Estratégias preventivas e medidas de hidratação são a melhor forma de abordagem face a um quadro de frieiras.
Recomendações:
- Manter as casas bem aquecidas;
- Usar pomadas tópicas com efeito regenerador várias vezes ao dia, para o alívio dos sintomas de comichão e dor;
- Assegurar proteção contra o frio (luvas, calçado apropriado, gorros de lã…) e manter a pele afetada sempre seca e quente;
- Aplicar calor pouco intenso e massagens suaves nas áreas afetadas;
- Praticar exercício físico moderado, pois ativa a circulação sanguínea aumentando a temperatura corporal;
- Não aquecer diretamente as mãos à lareira ou aquecedor a altas temperaturas;
- Evitar lavagens repetidas das mãos, pois facilitam o aparecimento de frieiras;
- Evitar usar sapatos ou roupa demasiado apertada, já que dificulta a circulação;
- Em caso de exposição ao frio, fazer um posterior aquecimento gradual;
- Evitar exposição ao fumo de tabaco, pois produz vasoconstrição dos capilares.
Portanto, na maioria dos casos, não é necessário recorrer ao médico e em duas a três semanas, com os cuidados acima descritos, as frieiras desaparecem. No entanto, quando os sintomas são exuberantes, ou no caso de lesões graves ou de sobre infeção é importante recorrer ao médico para um tratamento adequado.
A aplicação de cremes com cortisona não está indicada, uma vez que, ainda que melhorem a dor e o prurido, provocam vasoconstrição secundária, dificultando ainda mais a circulação e agravando a situação. Existem também produtos “naturais” usados nas frieiras, sem efeitos benéficos comprovados por estudos científicos, pelo que devem ser evitados.
A melhor estratégia é mesmo a prevenção, por isso, proteja-se a si e às suas crianças do frio de forma eficaz.
Mariana Portela, com a colaboração de Sandra Costa, Pediatra do Serviço de Pediatria do Hospital de Braga.
Texto originalmente publicado em www.escolavirtual.pt